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Idéias Íntimas II |
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Enchi o meu salão de mil figuras. Aqui voa um cavalo no galope, Um roxo dominó as costas volta A um cavaleiro de alemães bigodes, Um preto beberrão sobre uma pipa, Aos grossos beiços a garrafa aperta. . . Ao longo das paredes se derramam Extintas inscrições de versos mortos, E mortos ao nascer. . . Ali na alcova Em águas negras se levanta a ilha Romântica, sombria à flor das ondas De um rio que se perde na floresta. . . Um sonho de mancebo e de poeta, El?Dorado de amor que a mente cria Como um Éden de noites deleitosas.... Era ali que eu podia no silêncio Junto de um anjo. . . Além o romantismo! Borra adiante folgaz caricatura Com tinta de escrever e pó vermelho A gorda face, o volumoso abdômen, E a grossa penca do nariz purpúreo Do alegre vendilhão entre botelhas Metido num tonel... Na minha cômoda Meio encerado o copo inda verbera As águas d'oiro do Cognac fogoso. Negreja ao pé narcótica botelha Que da essência de flores de laranja Guarda o licor que nectariza os nervos. Ali mistura?se o charuto Havano Ao mesquinho cigarro e ao meu cachimbo. A mesa escura cambaleia ao peso Do titânio Digesto, e ao lado dele Childe Harold entreaberto ou Lamartine. Mostra que o romanismo se descuida E que a poesia sobrenada sempre Ao pesadelo clássico do estudo. |
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Autor: Manuel Antônio Álvares de Azevedo |
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Título |
Idéias Íntimas II |
Autor |
Manuel Antônio Álvares de Azevedo |
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