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Fragmento de Um Canto em Cordas de Bronze |
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Deixai que o pranto esse palor me queime, Deixai que as fibras que estalaram dores Desse maldito coração me vibrem A canção dos meus últimos amores!
Da delirante embriaguez de bardo Sonhos em que afoguei o ardor da vida, Ardente orvalhos de febris pranteios, Que lucro à alma descrida?
Deixai que chore pois. - Nem loucas venham Consolações a importunar-me as dores: Quero a sós murmurá-la à noite escura A canção dos meus últimos amores!
Da ventania às rápidas lufadas A vida maldirei em meu tormento - Que é falsa, como em prostitutos lábios Um ósculo visguento.
Escárnio! Para essa muitas virgens Como flores - românticas e belas - Mas que no seio o coração tem árido, Insensível e estúpido como elas!
Que agreste vibrar, ruja-me as cordas Mais selvagens desta harpa - quero acentos De áspero som como o ranger dos mastros Na orquestra dos ventos!
Corre feio o trovão nos céus bramindo; Vão torvos do relâmpago os livores: Quero às rajadas do tufão gemê-la, A canção dos meus últimos amores!
Vem, pois, meu fulvo cão! ergue-te, asinha, Meu derradeiro e solitário amigo! - Quero me ir embrenhar pelos desvios Da serra - ao desabrigo... |
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Autor: Manuel Antônio Álvares de Azevedo |
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» Dados sobre o Poema |
Título |
Fragmento de Um Canto em Cordas de Bronze |
Autor |
Manuel Antônio Álvares de Azevedo |
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